Wagner
Sanchez*
Diretor acadêmico da Faculdade FIAP
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Diretor acadêmico da Faculdade FIAP
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Já estamos vivenciando a quarta revolução
industrial em nosso dia a dia, uma economia com forte presença de tecnologias
digitais, mobilidade e conectividade de pessoas, na qual as diferenças entre
homens e máquinas se dissolvem e cujo valor central é a informação.
Presenciamos uma evolução exponencial da
tecnologia, ocasionando mudanças profundas no mercado de trabalho, economia,
formatos das empresas, enfim, teremos ganhadores e perdedores. As mudanças são
tão profundas que, da perspectiva da história humana, nunca houve um tempo de
maior promessa ou potencial perigo. Eu acredito na tecnologia como principal
ferramenta para se enfrentar os grandes problemas do mundo e encontrar soluções
nunca antes pensadas, aproveitando as oportunidades que irão surgir.
Depois da primeira revolução, com o aparecimento da
máquina a vapor, da segunda (eletricidade, cadeia de montagem) e da terceira
(eletrônica, robótica), surge a quarta revolução industrial, que combinará
numerosos fatores como a internet dos objetos ou a “big data” para transformar
a economia.
Imaginem vocês que 65% das crianças que entrarem
hoje na escola primária irão trabalhar em empregos que hoje não existem! É urgente
uma ação adaptativa de todos e, principalmente, das escolas!
Estamos vivendo uma fusão de tecnologias, borrando
as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas. As redes
digitais ampliam possibilidades de interação, mas com o ônus da redução do
contato físico, da conversa presencial, do “olho no olho”. Que tipo de adultos
(profissionais) serão as crianças que já nasceram rodeadas de smartphones,
tablets, notebooks e aplicativos para, virtualmente, fazerem qualquer coisa?
O último fórum econômico de Davos, que aconteceu no
início do ano, reuniu os principais líderes políticos e investidores do planeta
e retratou como tema central a quarta revolução industrial e seus impactos no
mundo. Se verifica uma forte mudança estrutural na economia mundial, com um
grande aprofundamento das tecnologias exponenciais. A discussão no Fórum se
pautou no fato de que a revolução trará benefícios aos países que mais
investirem em educação, enquanto minará empregos nos países subdesenvolvidos e
com pouco investimento em formação de sua população, como o Brasil, a África do
Sul e os países do Sudeste da Ásia. Segundo cálculos do Fórum, mais de 7
milhões de empregos podem ser eliminados por inovações tecnológicas até 2020.
Por outro lado, estas mesmas inovações tecnológicas irão criar novas
oportunidades de empregos, pois as empresas necessitam de mão de obra
qualificada para tocar os novos projetos que a quarta revolução está cobrando
das mesmas empresas. Neste panorama, surge a grande oportunidade de se investir
em capacitação dos jovens para estas inúmeras novas carreiras que irão surgir.
Educação Analógica versus Geração Digital
Muito se fala sobre o impacto da tecnologia na
educação. Mas, existe uma questão muito importante e que não podemos deixar de
lado: a tecnologia é relativa!
Quando o fax foi inventado em 1974 e começou a ser
usado em larga escala no Brasil, no início de 2000, era uma das maiores
invenções nas telecomunicações. Poucos anos se passaram e ele foi aposentado.
Hoje, temos gerações nos bancos escolares que nunca viram um fax funcionar e
nem sequer sabem o que é. Como este exemplo, podemos citar vários outros.
Já formamos no ensino médio as primeiras gerações
que nasceram com a Internet. Elas não tiveram que aprender a usar a Internet,
redes sociais fazem parte do cotidiano, estar sempre conectadas está no seu
contexto diário. Estes jovens se desenvolveram com um modelo mental diferente,
as sinapses acontecem de forma distinta diferente em relação às gerações
analógicas.
Pensando nestes aspectos, a nossa sala de aula não
pode ser uma poltrona de avião em decolagem, onde tudo deve ser desligado,
desplugado do mundo. Imaginem como é, para esta geração touchscreen, ficar em
uma poltrona de avião por 3 a 4 horas, sem ao menos postar um check-in no
Facebook, enviar uma mensagem pelo “Whats” ou pelo Snapchat, que irá se
autodestruir logo que for visualizada?
O nosso modelo pedagógico não evoluiu como o nosso
cotidiano nem como o nosso ambiente de trabalho. Atrevo-me a fazer uma
comparação entre os modelos educacionais e corporativos. No século XVIII, o
nosso ambiente de trabalho era baseado em pequenos grupos, trabalhos manuais,
mixer de idades, conteúdos finitos e específicos. Poderíamos chamar este modelo
de Workplace 1.0, enquanto a educação seguia os mesmos moldes, ou seja,
estávamos na Education 1.0.
Depois veio a revolução industrial e alcançamos o
Workplace 2.0, ferramentas mecânicas, linhas de produção, grandes grupos,
uniformidade de comportamento e tarefas repetitivas. Presenciamos a mudança na
educação nos mesmos moldes, iniciamos o processo do Education 2.0.
Atualmente, temos um ambiente corporativo –
Workplace 3.0 – onde se verifica o prazer no aprendizado, a grife perdeu espaço
para os conceitos, alta relevância no significado das tarefas e aprendizado
baseado em projetos. Fazendo um paralelo com a nossa escola, concluímos que
estamos ainda na versão 2.0. Temos um modelo educacional analógico para uma
geração digital, por isto não conseguimos colher bons resultados, pois o
serviço prestado não é absorvido pelo aluno.
Precisamos entender que as nossas aulas precisam de
um novo DNA. Elas precisam ser planejadas com as características que as novas
gerações estão esperando: prazer, sentido no aprendizado, competição, enredo,
aventura, enfim, a transmissão do conhecimento precisa estar na “vibe” da nova
geração (Vibração, Importância, Belo e Entretenimento).
Se conseguirmos que as nossas aulas tenham esta
“vibe”, estaremos trazendo para o dia a dia acadêmico tudo aquilo que eles
adoram nas trilogias campeãs de audiência, bem como nas redes sociais e nos
games de sucesso. Até porque, quando o aprendizado se dá com prazer, ele
torna-se muito mais significativo.
Pegando uma carona nesta nova “vibe” do aprendizado
temos os apps (aplicativos para dispositivo móveis), que estão cada dia mais
presentes nas mochilas escolares virtuais. Por serem focados, simples de se
usar, ágeis e muito conectados às novas gerações, contribuem muito na formação
dos jovens, pois resolvem os problemas ou solucionam as dúvidas de forma direta
e rápida, evitando muitas vezes pesquisas intermináveis para se encontrar as
soluções.
Além do conteúdo específico que os apps apresentam,
eles são muito usados na organização do dia a dia dos estudantes, que em alguns
casos possuem dificuldades de se organizar, mas nunca se esquecem dos
Smartphones. Assim, se o aplicativo puder acordá-lo para ir à escola, avisar os
livros que deve levar, sinalizar que ele não deve esquecer de levar o trabalho
que foi feito no dia anterior, lembrá-lo de pedir dinheiro para o lanche,
acusar que o jovem precisa avisar a mãe dele que o mesmo irá para a casa de um
colega depois da aula para fazer trabalho e até o remédio que precisa tomar no
intervalo, irá ajudar em muito estes nossos jovens.
E não se espantem se ouvirem falar que a era dos
apps está terminando. Estamos falando dos “bots”, robôs virtuais que irão
eliminar os apps de nossos dispositivos e fazer todo o trabalho que precisamos.
E, novamente, podemos afirmar como a tecnologia é
relativa. Se dez anos atrás a gente não havia sequer ouvido falar em
aplicativos móveis, talvez daqui a dez anos eles já não existam mais. Os
smartphones se popularizaram rapidamente e com eles os apps, cada qual com sua
função específica. Mas, ao que tudo indica, a tendência é que nossa interação
com as máquinas se torne ainda mais natural em um futuro mais próximo do que a
gente imagina e, neste contexto, entram os bots que serão os nossos “faz-tudo”:
teremos um só ambiente onde poderemos resolver tudo que precisamos sem ter que
baixar diversos aplicativos.
Metodologias Ativas
As metodologias ativas de aprendizagem possuem um
papel importante na transformação do formato de transmissão de conhecimento
para as novas gerações. Existem diversas metodologias que podem ser utilizadas,
porém, o mais importante é adequar o conteúdo a ser ministrado na metodologia
mais eficiente.
Outro aspecto interessante a ser ressaltado é o
aprendizado de conteúdos subjetivos, onde somente com GLS (giz, lousa e saliva)
o professor leva horas para que o aluno consiga entendê-lo, quando consegue,
por exemplo, conceitos de força, aceleração e massa. Ao passo que, quando o
professor utiliza um app dinâmico e expõe ele a turma, podemos ouvir
imediatamente aquele coro do aprendizado simples, direto e eficiente:
“hãhãhãhãhã entendiiii, prô” .
Podemos concluir que estamos vivenciando dia após
dia a concretização na prática de um conceito já muito discutido: que as aulas
expositivas tradicionais irão desaparecer ou irão para a Internet. Pensando
nisto, o professor precisa abandonar o papel de somente repassar conhecimento
para um papel de inspirador e mediador do conhecimento.
Deve-se investir e implementar as mais diversas
formas de se transmitir o conteúdo com eficiência, saindo da caixa. Neste
ponto, acreditamos que o segredo é a alternância de várias metodologias, tais
como: Peer Instruction, Case based Learning, Team Learning, Problem Based
Learning, Project based Learning e Game based learning.
Os métodos de transmissão de conhecimento presente
em nossas escolas precisam ser modificados rapidamente para uma versão digital,
onde as gerações touchscreen consigam navegar tranquilamente, pois só assim
conseguiremos estabelecer um protocolo de comunicação eficiente com eles para
atingirmos o sucesso no aprendizado.
Papéis
O professor é o facilitador do processo
ensino-aprendizagem, como já dizia Emília Ferreiro e Paulo Freire. Estamos em
acordo de que as teorias já existentes podem perfeitamente ser aplicadas as
novas formas de aprendizagens. “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos
nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos
sempre.” Frase do Prof. Paulo Freire, que acreditava que a interação entre as
pessoas, no caso professor e alunos ou alunos entre si, é fator importantíssimo
na aprendizagem. Ele dizia que cabia ao professor selecionar os conteúdos,
organizá-los, sistematizá-los didaticamente para facilitar o aprendizado dos
alunos e demonstrá-los. Para ele, todo tipo de conhecimento era importante,
sendo assim, todos os participantes da sala de aula são agentes importantes
para que a aprendizagem aconteça.
O papel do professor é muito importante, nunca irá
desaparecer, mas é modificado a cada dia, passando de detentor do conhecimento
para facilitador e inspirador do conhecimento. O aluno precisa do mestre para
mostrar o caminho correto e mais curto a fim de garimpar as informações certas
espalhadas pela internet para, aí sim, elaborar e assimilar os conceitos e
aprendizados úteis para o dia a dia dos jovens. O professor precisa estar
sensível e disponível a estas mudanças, entender que resistir a esta questão é
um sinal de auto desaparecimento gradativo, lento e sem volta. Assim, o quanto
antes, precisa se inundar de coragem e mergulhar profundamente neste universo
tecnológico. O aluno passa a ser o protagonista na aprendizagem e não
simplesmente consumidor de informação.
O papel do professor é muito importante, nunca irá
desaparecer, mas é modificado.
Quanto à escola, precisa estar disponível e com
vontade de mudar, principalmente investindo na formação de seus professores
que, sem culpa alguma, nasceram e se formaram em uma era analógica, e ainda,
estes professores estão à frente dos principais envolvidos neste contexto – os
alunos. O investimento precisa ser intenso e constante, proporcionando os
equipamentos necessários e, principalmente, treinamentos que auxiliem os
professores na busca por esta quebra de paradigma na forma de ensinar.
Falando dos pais e responsáveis, precisam estar
atentos para o alinhamento das escolas com o seu lar e seu modelo educacional.
O grande sucesso para que as famílias estejam felizes com as escolas de seus
filhos é escolher a escola que emprega um ritmo educacional mais semelhante ao
empregado pelos pais e o mesmo se aplica ao uso da tecnologia nas aulas.
Atrevo-me a concluir que esta “vibe” não irá
desaparecer, mas sim aumentar e evoluir a cada dia com a quarta revolução
industrial, exercendo fortemente uma necessidade de mudanças no processo
ensino-aprendizagem, porém abrindo inúmeras oportunidades de inovação, podendo
ser usadas por nós, educadores, para propiciar um aprendizado mais eficiente e
significativo para os nossos alunos.https://blog.abmes.org.br/?p=11915