terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A quarta revolução industrial e seus impactos na educação


Wagner Sanchez*
Diretor acadêmico da Faculdade FIAP
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Já estamos vivenciando a quarta revolução industrial em nosso dia a dia, uma economia com forte presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade de pessoas, na qual as diferenças entre homens e máquinas se dissolvem e cujo valor central é a informação.
Presenciamos uma evolução exponencial da tecnologia, ocasionando mudanças profundas no mercado de trabalho, economia, formatos das empresas, enfim, teremos ganhadores e perdedores. As mudanças são tão profundas que, da perspectiva da história humana, nunca houve um tempo de maior promessa ou potencial perigo. Eu acredito na tecnologia como principal ferramenta para se enfrentar os grandes problemas do mundo e encontrar soluções nunca antes pensadas, aproveitando as oportunidades que irão surgir.
Depois da primeira revolução, com o aparecimento da máquina a vapor, da segunda (eletricidade, cadeia de montagem) e da terceira (eletrônica, robótica), surge a quarta revolução industrial, que combinará numerosos fatores como a internet dos objetos ou a “big data” para transformar a economia.
Imaginem vocês que 65% das crianças que entrarem hoje na escola primária irão trabalhar em empregos que hoje não existem! É urgente uma ação adaptativa de todos e, principalmente, das escolas!
Estamos vivendo uma fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas. As redes digitais ampliam possibilidades de interação, mas com o ônus da redução do contato físico, da conversa presencial, do “olho no olho”. Que tipo de adultos (profissionais) serão as crianças que já nasceram rodeadas de smartphones, tablets, notebooks e aplicativos para, virtualmente, fazerem qualquer coisa?
O último fórum econômico de Davos, que aconteceu no início do ano, reuniu os principais líderes políticos e investidores do planeta e retratou como tema central a quarta revolução industrial e seus impactos no mundo. Se verifica uma forte mudança estrutural na economia mundial, com um grande aprofundamento das tecnologias exponenciais. A discussão no Fórum se pautou no fato de que a revolução trará benefícios aos países que mais investirem em educação, enquanto minará empregos nos países subdesenvolvidos e com pouco investimento em formação de sua população, como o Brasil, a África do Sul e os países do Sudeste da Ásia. Segundo cálculos do Fórum, mais de 7 milhões de empregos podem ser eliminados por inovações tecnológicas até 2020. Por outro lado, estas mesmas inovações tecnológicas irão criar novas oportunidades de empregos, pois as empresas necessitam de mão de obra qualificada para tocar os novos projetos que a quarta revolução está cobrando das mesmas empresas. Neste panorama, surge a grande oportunidade de se investir em capacitação dos jovens para estas inúmeras novas carreiras que irão surgir.

Educação Analógica versus Geração Digital

Muito se fala sobre o impacto da tecnologia na educação. Mas, existe uma questão muito importante e que não podemos deixar de lado: a tecnologia é relativa!
Quando o fax foi inventado em 1974 e começou a ser usado em larga escala no Brasil, no início de 2000, era uma das maiores invenções nas telecomunicações. Poucos anos se passaram e ele foi aposentado. Hoje, temos gerações nos bancos escolares que nunca viram um fax funcionar e nem sequer sabem o que é. Como este exemplo, podemos citar vários outros.
Já formamos no ensino médio as primeiras gerações que nasceram com a Internet. Elas não tiveram que aprender a usar a Internet, redes sociais fazem parte do cotidiano, estar sempre conectadas está no seu contexto diário. Estes jovens se desenvolveram com um modelo mental diferente, as sinapses acontecem de forma distinta diferente em relação às gerações analógicas.
Pensando nestes aspectos, a nossa sala de aula não pode ser uma poltrona de avião em decolagem, onde tudo deve ser desligado, desplugado do mundo. Imaginem como é, para esta geração touchscreen, ficar em uma poltrona de avião por 3 a 4 horas, sem ao menos postar um check-in no Facebook, enviar uma mensagem pelo “Whats” ou pelo Snapchat, que irá se autodestruir logo que for visualizada?
O nosso modelo pedagógico não evoluiu como o nosso cotidiano nem como o nosso ambiente de trabalho. Atrevo-me a fazer uma comparação entre os modelos educacionais e corporativos. No século XVIII, o nosso ambiente de trabalho era baseado em pequenos grupos, trabalhos manuais, mixer de idades, conteúdos finitos e específicos. Poderíamos chamar este modelo de Workplace 1.0, enquanto a educação seguia os mesmos moldes, ou seja, estávamos na Education 1.0.
Depois veio a revolução industrial e alcançamos o Workplace 2.0, ferramentas mecânicas, linhas de produção, grandes grupos, uniformidade de comportamento e tarefas repetitivas. Presenciamos a mudança na educação nos mesmos moldes, iniciamos o processo do Education 2.0.
Atualmente, temos um ambiente corporativo – Workplace 3.0 – onde se verifica o prazer no aprendizado, a grife perdeu espaço para os conceitos, alta relevância no significado das tarefas e aprendizado baseado em projetos. Fazendo um paralelo com a nossa escola, concluímos que estamos ainda na versão 2.0. Temos um modelo educacional analógico para uma geração digital, por isto não conseguimos colher bons resultados, pois o serviço prestado não é absorvido pelo aluno.
Precisamos entender que as nossas aulas precisam de um novo DNA. Elas precisam ser planejadas com as características que as novas gerações estão esperando: prazer, sentido no aprendizado, competição, enredo, aventura, enfim, a transmissão do conhecimento precisa estar na “vibe” da nova geração (Vibração, Importância, Belo e Entretenimento).
Se conseguirmos que as nossas aulas tenham esta “vibe”, estaremos trazendo para o dia a dia acadêmico tudo aquilo que eles adoram nas trilogias campeãs de audiência, bem como nas redes sociais e nos games de sucesso. Até porque, quando o aprendizado se dá com prazer, ele torna-se muito mais significativo.
Pegando uma carona nesta nova “vibe” do aprendizado temos os apps (aplicativos para dispositivo móveis), que estão cada dia mais presentes nas mochilas escolares virtuais. Por serem focados, simples de se usar, ágeis e muito conectados às novas gerações, contribuem muito na formação dos jovens, pois resolvem os problemas ou solucionam as dúvidas de forma direta e rápida, evitando muitas vezes pesquisas intermináveis para se encontrar as soluções.
Além do conteúdo específico que os apps apresentam, eles são muito usados na organização do dia a dia dos estudantes, que em alguns casos possuem dificuldades de se organizar, mas nunca se esquecem dos Smartphones. Assim, se o aplicativo puder acordá-lo para ir à escola, avisar os livros que deve levar, sinalizar que ele não deve esquecer de levar o trabalho que foi feito no dia anterior, lembrá-lo de pedir dinheiro para o lanche, acusar que o jovem precisa avisar a mãe dele que o mesmo irá para a casa de um colega depois da aula para fazer trabalho e até o remédio que precisa tomar no intervalo, irá ajudar em muito estes nossos jovens.
E não se espantem se ouvirem falar que a era dos apps está terminando. Estamos falando dos “bots”, robôs virtuais que irão eliminar os apps de nossos dispositivos e fazer todo o trabalho que precisamos.
E, novamente, podemos afirmar como a tecnologia é relativa. Se dez anos atrás a gente não havia sequer ouvido falar em aplicativos móveis, talvez daqui a dez anos eles já não existam mais. Os smartphones se popularizaram rapidamente e com eles os apps, cada qual com sua função específica. Mas, ao que tudo indica, a tendência é que nossa interação com as máquinas se torne ainda mais natural em um futuro mais próximo do que a gente imagina e, neste contexto, entram os bots que serão os nossos “faz-tudo”: teremos um só ambiente onde poderemos resolver tudo que precisamos sem ter que baixar diversos aplicativos.

Metodologias Ativas

As metodologias ativas de aprendizagem possuem um papel importante na transformação do formato de transmissão de conhecimento para as novas gerações. Existem diversas metodologias que podem ser utilizadas, porém, o mais importante é adequar o conteúdo a ser ministrado na metodologia mais eficiente.
Outro aspecto interessante a ser ressaltado é o aprendizado de conteúdos subjetivos, onde somente com GLS (giz, lousa e saliva) o professor leva horas para que o aluno consiga entendê-lo, quando consegue, por exemplo, conceitos de força, aceleração e massa. Ao passo que, quando o professor utiliza um app dinâmico e expõe ele a turma, podemos ouvir imediatamente aquele coro do aprendizado simples, direto e eficiente: “hãhãhãhãhã entendiiii, prô” .
Podemos concluir que estamos vivenciando dia após dia a concretização na prática de um conceito já muito discutido: que as aulas expositivas tradicionais irão desaparecer ou irão para a Internet. Pensando nisto, o professor precisa abandonar o papel de somente repassar conhecimento para um papel de inspirador e mediador do conhecimento.
Deve-se investir e implementar as mais diversas formas de se transmitir o conteúdo com eficiência, saindo da caixa. Neste ponto, acreditamos que o segredo é a alternância de várias metodologias, tais como: Peer Instruction, Case based Learning, Team Learning, Problem Based Learning, Project based Learning e Game based learning.
Os métodos de transmissão de conhecimento presente em nossas escolas precisam ser modificados rapidamente para uma versão digital, onde as gerações touchscreen consigam navegar tranquilamente, pois só assim conseguiremos estabelecer um protocolo de comunicação eficiente com eles para atingirmos o sucesso no aprendizado.

Papéis

O professor é o facilitador do processo ensino-aprendizagem, como já dizia Emília Ferreiro e Paulo Freire. Estamos em acordo de que as teorias já existentes podem perfeitamente ser aplicadas as novas formas de aprendizagens. “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Frase do Prof. Paulo Freire, que acreditava que a interação entre as pessoas, no caso professor e alunos ou alunos entre si, é fator importantíssimo na aprendizagem. Ele dizia que cabia ao professor selecionar os conteúdos, organizá-los, sistematizá-los didaticamente para facilitar o aprendizado dos alunos e demonstrá-los. Para ele, todo tipo de conhecimento era importante, sendo assim, todos os participantes da sala de aula são agentes importantes para que a aprendizagem aconteça.
O papel do professor é muito importante, nunca irá desaparecer, mas é modificado a cada dia, passando de detentor do conhecimento para facilitador e inspirador do conhecimento. O aluno precisa do mestre para mostrar o caminho correto e mais curto a fim de garimpar as informações certas espalhadas pela internet para, aí sim, elaborar e assimilar os conceitos e aprendizados úteis para o dia a dia dos jovens. O professor precisa estar sensível e disponível a estas mudanças, entender que resistir a esta questão é um sinal de auto desaparecimento gradativo, lento e sem volta. Assim, o quanto antes, precisa se inundar de coragem e mergulhar profundamente neste universo tecnológico. O aluno passa a ser o protagonista na aprendizagem e não simplesmente consumidor de informação.
O papel do professor é muito importante, nunca irá desaparecer, mas é modificado.
Quanto à escola, precisa estar disponível e com vontade de mudar, principalmente investindo na formação de seus professores que, sem culpa alguma, nasceram e se formaram em uma era analógica, e ainda, estes professores estão à frente dos principais envolvidos neste contexto – os alunos. O investimento precisa ser intenso e constante, proporcionando os equipamentos necessários e, principalmente, treinamentos que auxiliem os professores na busca por esta quebra de paradigma na forma de ensinar.
Falando dos pais e responsáveis, precisam estar atentos para o alinhamento das escolas com o seu lar e seu modelo educacional. O grande sucesso para que as famílias estejam felizes com as escolas de seus filhos é escolher a escola que emprega um ritmo educacional mais semelhante ao empregado pelos pais e o mesmo se aplica ao uso da tecnologia nas aulas.
Atrevo-me a concluir que esta “vibe” não irá desaparecer, mas sim aumentar e evoluir a cada dia com a quarta revolução industrial, exercendo fortemente uma necessidade de mudanças no processo ensino-aprendizagem, porém abrindo inúmeras oportunidades de inovação, podendo ser usadas por nós, educadores, para propiciar um aprendizado mais eficiente e significativo para os nossos alunos.

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